Conselho Indigenista culpa governo por cacique que ‘alugava’ terras a fazendeiros

Por meio de carta, o Cimi afirma que os “A’uwê foram obrigados a buscar alternativas para sua sobrevivência.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) culpou o governo federal e a Fundação Nacional do Índio (Funai) pelos indígenas envolvidos no “aluguel” de terras para fazendeiros que foram descobertos pela Operação Res Capta, realizada pela Polícia Federal na última semana.

Por meio de carta, o Cimi afirma que os “A’uwê foram obrigados a buscar alternativas para sua sobrevivência, já que há pelo menos 4 anos o Ministério Público Federal (MPF) vem cobrando da Funai “para que se manifeste diante da necessidade de efetivar ações que garantissem a subsistência da comunidade indígena”.

A área em questão fica na terra indígena Marãiwatsédé, que já foi alvo de ações após a ocupação – que durou 20 anos – por fazendeiros, que invadiram as terras e construíram casas, vilas e até comércios. Eles foram retirados em 2012, quando a terra voltou a ser totalmente dos indígenas.

Segundo a operação da PF o servidor da Funai Jussielson Gonçalves Silva e o cacique Damião Paridzané cobravam taxas dos fazendeiros para que eles pudessem criar gado na região. As investigações apontaram que o cacique recebia cerca de R$ 900 mil por mês pelo “aluguel”.

A carta do Cimi enfatiza que desde 2019 o governo federal tem facilitado a “invasão e favorecimento da exploração de bens destes povo” e que o envolvimento do servidor da Funai no esquema mostra que não é “prioridade” do órgão atuar na defesa dos indígenas, como é a sua atribuição.

“Desde 2012, quando se efetivou a desintrusão, este povo busca recuperar suas formas próprias de convivência com a natureza. Encontraram, contudo, uma devastação ambiental, cujo ápice se deu no início da década de 1990, justamente quando já se sinalizava a devolução do território aos seus legítimos donos”, diz trecho do documento.

Cobra ainda que “o governo federal efetue ações de recuperação das áreas degradadas pelos antigos invasores e, com a efetiva participação das comunidades e lideranças de Marãiwatsédé, cumpra o papel que lhes cabe segundo o texto constitucional e objetivos institucionais, com pessoas devidamente preparadas, capacitadas técnica e antropologicamente e com conduta ilibada, como deve ser natural para cargos públicos”.

Thalyta Amaral | Gazeta Digital
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