Quase 100 médicos de pedem demissão por calote de terceirizada em MT

Médicos reclamam que além de trabalhar em condições sem dignidade de trabalho, estão com pagamentos atrasados desde junho

Cerca de 80 médicos que atuam em hospitais municipais de Cuiabá já pediram demissão devido aos atrasos nos pagamentos dos salários. Os profissionais trabalham por meio de uma empresa terceirizada, a Hipermed, que não estaria pagando salários desde junho deste ano. A empresa alega aos profissionais que “não estaria recebendo” da Prefeitura de Cuiabá. Os médicos atuam no Hospital São Benedito, Pronto-Socorro e Hospital Municipal de Cuiabá (HMC).

A reportagem tentou contato com a empresa, mas não obteve êxito.

Já a Secretaria Municipal de Saúde, por meio de nota, disse que “vem cumprindo com os pagamentos à empresa terceirizada Hipermed Serviços Médicos em dia e que vem respeitando as ordens judiciais pertinentes ao caso”. A empresa em questão teve contrato com o município suspenso por decisão do juiz federal Jeferson Schneider em julho deste ano. Já os pagamentos ‘indenizatórios’ às empresas deveriam ser retornados em 60 dias.

“Importante destacar que os médicos prestam serviços à Hipermed, que é a responsável pelo pagamento dos salários de seus funcionários e que vem recebendo os valores pelos serviços prestados à ECSP  (Empresa Cuiabana de Saúde Pública) em dia”, destaca a nota da SMS.

MÉDICOS DOENTES

Somado ao atraso dos pagamentos desde junho, os médicos também reclamam que apesar da dedicação no combate à pandemia, eles são obrigados a trabalhar sem condições dignas e sem os materiais e medicamentos necessários para prestar atendimento à população. Ainda segundo um profissional da categoria, alguns médicos já estão com dificuldades para colocar comida à mesa de suas famílias.

“Agora atrasam tudo isso. Não respondem. Não atendem ligações. Tem médico, por exemplo, que fica doente e aí precisa solicitar troca de escala, eles não atendem o médico achando que o profissional quer cobrar. O resultado é o médico doente ir obrigado ao trabalho e ainda não receber”, disse um médico ao Estadão Mato Grosso.

Leia a nota da SMS:

Em relação ao pagamento dos médicos que prestam serviços na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) dos hospitais geridos pela Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP), a mesma informa que vem cumprindo com os pagamentos à empresa terceirizada Hipermed Serviços Médicos em dia e que vem respeitando as ordens judiciais pertinentes ao caso. Importante destacar que os médicos prestam serviços à Hipermed, que é a responsável pelo pagamento dos salários de seus funcionários e que vem recebendo os valores pelos serviços prestados à ECSP em dia.

Leia a carta aberta da categoria:

Cuiabá, 22 de outubro de 2021.
CARTA ABERTA À POPULAÇÃO CUIABANA

Nós, médicos no município de Cuiabá, por meio deste documento, externamos profunda indignação e revolta com o descaso demonstrado pelas empresas que prestam serviços médicos nas unidades públicas de saúde da capital, administradas pelo Município e pela Empresa Cuiabana de Saúde Pública e terceirizadas à HIPERMED e empresas ligas a seu grupo.

Enfrentamos uma PANDEMIA sem precedentes que não faz distinção de classe social e atingiu a toda população de forma avassaladora. As consequências sociais desse período serão sentidas pelos brasileiros por vários anos. As sequelas deixadas pela Covid-19 colocam diante do SUS um grande desafio. Será necessária uma política de saúde séria e resolutiva para que os sobreviventes da pandemia possam retomar uma vida saudável e com dignidade.

Nós médicos estamos na linha de frente no combate à pandemia. Muitos com turnos dobrados em jornadas cansativas que também colocam em risco nossa própria saúde. Também por esse motivo, é preciso destacar o óbvio; ainda somos cidadãos e trabalhadores, temos direitos e deveres. Contudo, nossos direitos não têm sido respeitados.

Lamentavelmente, somos obrigados a trabalhar sem condições dignas de trabalho e muitas vezes sem os materiais e medicamentos necessários para prestar o melhor atendimento possível a população. Mas fazemos o melhor com que temos à disposição.

Por outro lado, o atraso nos pagamentos dos médicos é uma característica recorrente no serviço público. Como cumprir com os deveres e pagar as contas de energia, água, aluguel, alimentação com atrasos de três meses nos pagamentos?

Por isso externamos nesta carta, não apenas a nossa indignação, mas também nosso desligamento desses vínculos precários estabelecidos com o serviço público por meio de empresas terceirizadas, em especial HIPERMED e seu grupo empresarial, que não demonstram possuir compromisso com a qualidade dos serviços e com os direitos dos médicos. Não estão cumprindo com o básico que é manter os pagamentos dos médicos em dia que não falharam um dia sequer com seu compromisso de trabalhar na garantia do direito à saúde.

Por isso comunicamos que não mais desejamos prestar serviços a essas empresas que não demonstram o mesmo compromisso com que executamos nosso trabalho com zelo e dedicação.

Para que não haja prejuízo repentino à assistência médica à população cuiabana, cumpriremos o prazo de aviso prévio conforme legislação do Código de Ética Médica e outras legislações vigentes.

Médicos a serviços da HPERMED e grupo empresarial, contratadas pelo Município de Cuiabá e pela Empresa Cuiabana de Saúde Pública.

Estadão Mato Grosso
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