Desaceleração na China pode elevar inflação no Brasil; entenda

Segundo economista, entregas menores da nação asiática podem reduzir oferta e encarecer produtos comercializados no país

A desaceleração da economia chinesa é uma notícia ruim para todos os países do mundo, principalmente para aqueles que dependem tanto da força do país asiático para aquecer o próprio mercado interno, como o Brasil.

O resultado de 4,9% de aumento no PIB (Produto Interno Bruno) chinês no terceiro trimestre, abaixo do esperado, pode representar a redução de compras de commodities brasileiras e a diminuição da produção industrial do maior fornecedor de insumos internacional.

O que isso significa? Que setores da economia nacional, como os de tecnologia ou têxtil, paguem mais para atender aos pedidos dos consumidores locais ou limitem a oferta. Ambos os casos podem elevar a inflação no Brasil.

O IPCA (Índice Nacional de Preços para o Consumidor Amplo), do IBGE, registrou em setembro 10,25% acumulados em um ano.

“Muitas das empresas daqui montam seus produtos na China. Como a produção deles não é tão alta mais, não chegam os produtos necessários para atender a nossa demanda”, explica o professor de economia da Universidade Mackenzie Hugo Garbe.

Garbe observa que a desaceleração da potência asiática ocorre em um momento em que o mundo busca novos fornecedores de insumos e peças industriais.

“Já se sabia que a China em termos de produção estava estrangulada. É praticamente impossível sustentar uma população de 1,5 bilhão de pessoas e ainda se manter como grande fornecedor internacional”, diz o professor, que observa que a pandemia de Covid-19 escancarou a dependência de várias nações em relação aos chineses.

“Haverá uma reacomodação. Vários países estão buscando novos parques industriais. Na área de tecnologia, a Índia já é uma forte concorrente, o Vietnã fornece itens de vestuário para marcas de grife; são vários exemplos.”

A produção chinesa caiu também porque há dificuldade logística para comprar matérias-primas por causa da crise da pandemia, que encareceu e tornou os fretes bastante demorados. E aí novamente o Brasil é prejudicado.

A China é a maior compradora de commodities do país. Quase dois terços do minério de ferro brasileiro têm os asiáticos como compradores. Também tem esse destino a maior parte dos grãos e a carne nacional.

Por esse lado, se eles param de comprar, os produtos, obrigados a ser vendidos por aqui, tendem a cair de preço com a oferta maior.

Mas não dá para comemorar. Uma redução na industrialização chinesa pode ter como consequência um agravamento da crise econômica mundial.

Em situações assim, investidores tendem a buscar bens mais seguros, como o dólar, elevando os preços da moeda americana e, indiretamente, encarecendo todos os itens importados pelas empresas brasileiras.

Recuperação chinesa

A economia da China se recuperou rapidamente da queda induzida pela pandemia no ano passado, mas o ímpeto da retomada perdeu força nos últimos meses, com o vasto setor manufatureiro enfrentando custos elevados, gargalos na produção e, mais recentemente, racionamento de eletricidade.

A China vem enfrentando uma crise energética, já que a escassez de suprimentos de carvão, a rigidez nos padrões de emissões de carbono e a forte demanda dos fabricantes e da indústria elevaram os preços do carvão a patamares recordes e desencadearam restrições generalizadas no seu uso.

Recentemente, o país sofreu com a crise da gigante da construção civil Evergrande, que precisou de ajuda governamental para não falir e quebrar um dos setores mais importantes para a economia do país.

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