Reportagem de ‘O Estado de S. Paulo’ afirmou que ministro da Defesa condicionou as eleições à aprovação do voto impresso, mas Lira negou. Presidente do TSE escreveu em rede social que ‘as instituições estão funcionando’.
‘Forças Armadas atuam sempre e sempre atuarão dentro dos limites previstos pela Constituição’, diz Braga Netto
O ministro da Defesa, Braga Netto, negou nesta quinta-feira (22) que tenha feito ameaças contra a realização das eleições de 2022.
Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo” relatou que Braga Netto teria enviado um recado ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no dia 8 de julho, dizendo que, se não for aprovado o voto impresso e “auditável”, não haverá eleições em 2022 (leia mais abaixo sobre discussão a respeito do voto impresso).
Ao longo da manhã, Lira também negou que tenha recebido a ameaça. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, ligou para Lira, ouviu do deputado que não houve ameaça, e escreveu em uma rede social que “as instituições estão funcionando“.
Braga Netto falou sobre o tema após um evento no Ministério da Defesa.
“Hoje foi publicada uma reportagem na imprensa que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaça feitas por interlocutores a presidente de outro poder. O Ministro da Defesa não se comunica com os presidentes dos poderes por meio de interlocutores. Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os poderes da República em um momento que exige a união nacional”, afirmou Braga Netto.
“O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam sempre e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição”, completou o ministro.
Braga Netto disse ainda que a discussão sobre o voto impresso é “legítima” e está sendo analisada no Congresso. Ele fez referência a um projeto em tramitação na Câmara que propõe o voto impresso.
“A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal e está sendo analisada pelo parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”, concluiu o ministro.
Mais cedo, ao chegar ao ministério, Braga Netto foi questionado por jornalistas sobre a reportagem do “Estadão” e respondeu: “É invenção”.
‘Estadão’ reafirma
Diante das negativas de Lira e de Braga Netto, o diretor de Jornalismo do “Estadão”, João Caminoto, escreveu em uma rede social, que reafirma o conteúdo da reportagem.
“Diante das diversas reações, considero importante reafirmar na íntegra o teor da reportagem publicada hoje no ‘Estadão’ sobre os diálogos do ministro da Defesa. O compromisso inabalável do Estadão segue sendo a qualidade jornalística e o respeito ao Estado de Direito”, afirmou Caminoto.
Voto impresso
O voto impresso é uma das principais causas atualmente defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contestam o presidente e afirmam que o sistema eleitoral no país é seguro, moderno e auditável.
O presidente do TSE, Luís Roberto Barroro, critica a proposta de voto impresso.
Bolsonaro reclama de possibilidade de fraude nas eleições, mas não apresenta provas.
Na comissão da Câmara que analisa um projeto para o voto impresso, a tendência é de derrota do texto. Partidos políticos se manifestaram conjuntamente contra a proposta.
Autoridades negam
Luís Roberto Barroso, disse que conversou com o Lira nesta manhã, e que o presidente da Câmara negou a ameaça de Braga Netto.
O vice-presidente Hamilton Mourão, também na chegada ao Ministério da Defesa, respondeu a jornalistas sobre a reportagem: “É mentira”, gritou Mourão, que estava um pouco distante.
Lira
Em uma rede social, o presidente da Câmara escreveu que, independentemente do que é publicado pela imprensa, o brasileiro quer voto secreto, popular e soberano.
“A despeito do que sai ou não na imprensa, o fato é: o brasileiro quer vacina, quer trabalho e vai julgar seus representantes em outubro do ano que vem através do voto popular, secreto e soberano”, disse o presidente da Câmara.
Por Guiherme Mazui e Jéssica Sant’Ana, G1 — Brasília