Quadrilha liderada por policiais tinha 4 núcleos e fazia falsas abordagens

As ações envolvem a prática de crimes graves como concussão, corrupção, peculato, roubo e tráfico.

O grupo denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) por “praticar crimes, ao invés de combatê-los! ”, alvo da Operação Renegados, deflagrada em maio, é formado por investigadores de Polícia Civil lotados, como regra, na 3ª Delegacia de Polícia do Coxipó, da Capital. Segundo a denúncia, obtida pelo RD News, eles tinham como principal integrante e líder o investigador Edilson Antônio da Silva, à época chefe de operações da delegacia.

As investigações do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) apontam para quatro núcleos da organização criminosa. O principal deles era formado por agentes da Polícia Civil. Além de Edilson, os investigadores Alan Cantuário Rodrigues, Júlio César de Proença, Paulo da Silva Brito, Dhiego de Matos Ribas, que estavam lotados na delegacia do Coxipó, Rogério da Costa Ribeiro e André Luís Haack Kley, da 2ª Delegacia do Planalto, e Frederico Eduardo de Oliveira Gruszczynski, então trabalhando na Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Veículos (Derfva), também fariam parte desse núcleo.

A denúncia aponta que esse núcleo “dispunha de maior poder de comando sobre as ações criminosas que seriam deflagradas pela organização criminosa, tendo em vista que eram responsáveis pela obtenção de informações sobre os “alvos” nos bancos de dados do Poder Público que tinham à sua disposição, por meio dos investigadores de polícia integrantes da organização”. Eles se valiam de falsas abordagens, “que eram sempre efetuadas com o propósito claramente ilícito de obter vantagem indevida dos indivíduos que eram abordados”.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

          Organograma mostra como a suposta organização criminosa se estruturava para cobrar o “arrocho” com uso da            estrutura da Polícia Civil de MT

 

“Tal conclusão decorre da constatação de que seus membros organizavam e planejavam, individual e também coletivamente, a logística das ações criminosas do grupo, tendo sempre especial destaque nesse tocante o acusado Edilson Antônio da Silva, que então ocupava a posição de chefe de operações da 3 ª DP, e que reunia as melhores condições e recursos para exercer esse papel”, diz trecho da denúncia.

Mas como funcionava esta organização criminosa? De acordo com os documentos obtidos pelo  RD NEWS, o grupo se valia ainda da utilização ilícita de viaturas oficiais da PJC (inclusive caracterizadas com a identificação ostensiva), giroflex, uniformes, distintivos, emprego de armas de fogo, tanto de origem ilícita quanto de propriedade do Estado de Mato Grosso, acauteladas para os policiais.

Edilson eram quem planejava e organizava a logística em termos de aparato policial para as ações do grupo criminosos, orquestrava o agir dos investigadores de polícia e dos demais integrantes quando das abordagens, centralizava a função de consultas nos bancos de dados e tinha a incumbência de adotar providências para “arredondar” as situações ilícitas, caso houvesse essa necessidade em caso de imprevistos, segundo o MPE.

Ex-agentes públicos

Um segundo núcleo seria formado por ex-policiais civis, que auxiliavam o primeiro. Os ex-investigadores Hairton Borges Júnior, conhecido como “Borjão”, e Raimundo Gonçalves Queiroz, o “Queiroz”, ambos demitidos das forças policiais, atuavam junto do investigador aposentado Evanir Silva Costa, que é investigador aposentado, segundo a denúncia.

Eles auxiliavam o núcleo de investigadores de polícia quanto ao planejamento das ações do grupo, “participavam ativamente das abordagens ilícitas, utilizando-se das experiências e conhecimentos da praxe policial”.

Reprodução

Viatura utilizada para crimes - Operação Renegados

Trecho da denúncia mostra que viaturas da PJC eram utilizadas para crime

Outros dois núcleos ainda davam apoio à atividade da suposta organização criminosa. O Gaeco aponta para um grupo de apoio que incluía, entre outras pessoas, dois policiais militares, mas que estariam atuando à paisana durante os crimes. São eles o militar da ativa Adilson de Jesus Pinto, o “Sub Jesus”, e o PM da reserva Manoel José de Campos. João Martins de Castro, o “Castro”, um ex-PM demitido, também atuava nesse núcleo.

Natália Regina Assis da Silva, a “Nati Assis”, era estagiária da 3ª DP do Coxipó e companheira de Edilson, suposto líder, e também faria parte de núcleo junto de Daniel de Paula Melo e Ananias Santana da Silva.

“Desse modo, dentre outras ações, os integrantes deste núcleo mantinham contato com informantes, levantavam previamente endereços, monitoravam possíveis “alvos”, davam cobertura às abordagens, sendo certo que, por vezes, participavam de abordagens como se pertencessem aos quadros da Polícia Judiciária Civil”, diz o MPE.

O quarto núcleo seria o de “informantes”. A denúncia cita os nomes de Jovanildo Augusto da Silva, Reinaldo do Nascimento Lima, o “Rei”, Néliton João da Silva, Kelle de Arruda Santos, Domingos Sávio Alberto de Santana, Delisflásio Cardoso Bezerra da Silva e Genivaldo De Souza Machado como membros dessa parte da organização criminosa.

Eles seriam os responsáveis por passar informações sobre possibilidades de abordagens para a cobrança do “arrocho”, uma espécie de propina para que os policiais civis não investigassem crimes. O MPE acusa os integrantes desse núcleo de participar “ainda mais ativamente da execução criminosa, passando-se por interessados em realizar negócios com os “alvos”, como forma de obter mais informações, atraí-los etc”.

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