Do Pantanal vem a bactéria que pode matar o Aedes aegypti

Do Pantanal vem a bactéria que pode matar o Aedes aegypti

A pesquisa está em fase inicial e para um produto final serão necessários mais testes, mas os resultados são promissores

 

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso descobriram quatro bactérias capazes de matar a larva do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue e da chicungunha, zika vírus e febre amarela.

Ao todo foram testadas 254 bactérias, dentre elas onze se mostraram capazes de matar as larvas do mosquito. Para a pesquisa foram selecionadas as quatro que tiveram o melhor desempenho.

Três destas bactérias são oriundas de amostras de solo e plantas da região do Pantanal. A quarta foi isolada a partir de uma amostra de plantação de feijão em Goiás.

Segundo a pesquisadora Silvia Altoé Falqueto, de 43 anos, doutoranda em Biotecnologia e Biodiversidade pela UFMT, as quatro produzem substâncias que matam a larva e até o momento não foram tóxicas para outros organismos testados.

“A gente estava procurando bactérias do gênero Bacillus, porque este gênero tem várias espécies que matam insetos. Como tínhamos vários isolados de outros projetos na nossa coleção, resolvemos testá-las contra as larvas”, explica Silvia sobre como se deu a descoberta.

Ela aponta que a pesquisa ainda está em fase inicial, mas os resultados são promissores.

“Sabemos que as quatro bactérias produzem substâncias que matam as larvas, mas ainda precisamos saber melhor quais substâncias são, fazer novos testes com outros organismos, em outros ambientes e em média e larga escala”, aponta a pesquisadora.

Somente a partir daí será possível o desenvolvimento de um produto comercial final que combata o mosquito em larga escala.

“A principal vantagem das nossas substâncias é que elas não precisam das células das bactérias para matar as larvas, como outros produtos bacterianos, ou seja, não introduzimos uma bactéria que produz várias substâncias diferentes e precisa conseguir sobreviver no novo ambiente”, explica Silvia.

“Até agora elas se mostraram seguras para outros organismos que não o mosquito. Isso é ótimo, porque queremos matar o mosquito e não impactar o resto da biodiversidade”, complementa.

Arquivo pessoal

Processo de pesquisa

Parte do processo de pesquisa

Ela reforça a necessidade de novos testes para o emprego dessas bactérias em um produto final 100% seguro. “Ainda temos que checar vários aspectos de segurança, porque um larvicida precisa ser superseguro, afinal, será usado em água”, afirma.

Entretanto, a continuidade dessa pesquisa dependerá de fundos para prosseguir com os futuros testes em larga escala.

O berço para descobertas 

Todo e qualquer ambiente apresenta uma grande quantidade de bactérias. Elas produzem substâncias para viver, que podem ou não ter aplicações para a vida humana.

Dentro desse cenário, o Pantanal se mostra um importante polo para descobertas científicas.

“É um ambiente bastante diverso, e pouco explorado, lugar interessante para prospectar organismos com aplicação biotecnológica. Não conhecemos quase nada do que existe lá em termos de microrganismos. E essa é mais uma razão pra gente estudar a biodiversidade desses ambientes, para conhecer melhor e encontrar microrganismos que possam ser úteis para a nossa vida”, diz a pesquisadora.

Sobre as bactérias encontradas no Pantanal e em Goiás, ela explica: “Todas as espécies que a gente achou existem em outros locais, mas as linhagens a que pertencem, que são aquelas em que encontramos o efeito sobre as larvas, são exclusivas dos locais citados”, conclui.

A pesquisa completa pode ser encontrada no periódico científico Journal of Invertebrate Pathology.

Enquanto o larvicida não chega 

O processo até se chegar em um produto final comercializável que utilize as bactérias descobertas pode ser demorado. Enquanto isso, é necessário continuar o combate ao mosquito.

Considerado um problema de saúde pública, a dengue no Brasil, por exemplo, representa cerca de 70% dos casos nas Américas. Segundo a OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), as Américas notificaram mais de 3 milhões de casos só em 2019. Superando, assim, os 2,4 milhões em 2015, época que até então era considerada a maior epidemia de dengue da história.

Já no ano de 2020, além da preocupação com a pandemia, a dengue também acendeu o alerta. Nos primeiros cinco meses do ano já tinham sido registrados 1,6 milhão de casos nas Américas.

O combate ao vetor da doença ainda é a forma mais eficiente de luta. Isso se deve à falta de uma vacina eficaz e a indisponibilidade de tratamento para todas as doenças que podem ser transmitidas pelo mosquito.

O Aedes aegypti é encontrado no ambiente doméstico e a sua reprodução se dá em água limpa e parada. Diante desse cenário, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) aponta algumas ações essenciais no combate ao mosquito.

Após uma rápida varredura pelos ambientes é possível eliminar esses focos e manter o ambiente seguro.

Dentro de casa é fundamental tampar tonéis e caixas d’água, limpar calhas e manter garrafas sempre viradas de cabeça para baixo. Assim como manter lixeiras bem tampadas, ralos limpos e com aplicação de tela, manter pratos de vasos de planta com areia, higienizar regularmente.

Os potes de água dos animais também precisam de um cuidado especial, apenas trocar a água não é suficiente, é preciso higienizá-los de maneira adequada.

Já no ambiente externo, é necessária a manutenção periódica de piscinas, ralos, canaletas e calhas. Assim como se atentar a plantas como  bromélia e babosa que podem acumular água.

De maneira geral, certifique-se de verificar todo e qualquer lugar que possa ter acúmulo de água. Com medidas simples e periódicas é possível, se não erradicar as doenças provocadas pelo Aedes aegypti, reduzi-las consideravelmente.

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