Covid: 3 critérios para mundo voltar a abrir portas para turistas do Brasil
Com avanço da vacinação pelo mundo, países começam a abrir as fronteiras para turistas imunizados. Mas pessoas vindas do Brasil estão de fora da flexibilização. O que precisa mudar para o país sair do isolamento?
Com o avanço da vacinação contra a covid pelo mundo, países começam a abrir as fronteiras para turistas imunizados, sem necessidade de quarentena. Mas o Brasil tem ficado de fora da nova flexibilização.
A União Europeia decidiu permitir a entrada de viajantes que tenham recebido a segunda dose da vacina ao menos 14 dias antes de viajar. A regra vale para vacinas aprovadas pela agência sanitária europeia, mas países do bloco também podem ampliar a permissão para imunizantes aprovados pela Organização Mundial da Saúde, como é o caso da CoronaVac.
Na segunda (7), a Espanha começou a receber visitantes vacinados de praticamente todos países. Nesse caso, foram permitidas vacinas aprovadas pela OMS, como a CoronaVac. Mas, novamente, o Brasil ficou de fora. E isso deve se repetir à medida que outros membros da União Europeia iniciem o esquema de abertura para imunizados.
Ou seja, para os brasileiros, não basta estar totalmente vacinado para vislumbrar férias nos principais destinos internacionais.
Considerado de “especial risco epidemiológico”, o Brasil pode continuar isolado de grande parte do mundo por causa do descontrole da pandemia e o ‘caldeirão de variantes’ que circulam pelo território.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, para que as portas de EUA e Europa voltem a se abrir a turistas brasileiros, o país possivelmente precisará cumprir ao menos três critérios:
1. Reduzir taxa de infecções por 100 mil habitantes
O número proporcional de infecções é um dos critérios usados pelas equipes de aconselhamento dos EUA e União Europeia na hora de decidir de onde receber turistas vacinados, destaca o pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza.
A União Europeia estabeleceu como regra permitir a entrada, sem quarentena, de pessoas vacinadas vindas de países com taxa de até 75 casos de covid por 100 mil habitantes, em 14 dias.
O Brasil está longe dessa meta. Nas últimas duas semanas somadas, teve 416 novos casos de covid por 100 mil habitantes, conforme dados utilizados pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.
Trata-se da 12ª pior taxa do mundo, sendo que dos 10 países com mais infecções por 100 mil habitantes, sete são latino-americanos. Ou seja, para cumprir as regras atuais da União Europeia, o Brasil precisaria reduzir em 82% a taxa de infecção por 100 mil habitantes.
Segundo o professor de Política de Saúde Global Peter Baker, a experiência mostra que vacinação, medidas de confinamento e distanciamento social são os caminhos para diminuir casos de covid.
Reino Unido e grande parte dos países europeus introduziram lockdowns nos primeiros estágios de vacinação para conter infecções e surgimento de variantes nesse período.
“O principal a fazer é reduzir os casos de contaminação. Um país como Brasil deveria poder acelerar a campanha de vacinação e deveria receber ajuda de países ricos. Outra opção é aumentar medidas de distanciamento social”, diz Baker, que é pesquisador do Centro de Desenvolvimento para Saúde Global, no Reino Unido.
2. Controlar o surgimento de variantes
O principal motivo para a exclusão do Brasil da decisão da União Europeia de receber turistas vacinados é o risco de variantes do coronavírus, dizem Bozza e Baker. Atualmente, a P.1, identificada primeiramente em Manaus e rebatizada de gamma pela OMS (Organização Mundial da Saúde), é a cepa prevalente em todo o território brasileiro.
Ela preocupa por ser mais transmissível e pela capacidade de evadir anticorpos ao apresentar mutações que facilitam a entrada do vírus nas células humanas. Um estudo publicado na revista Science mostrou que a P.1 é até 2,4 vezes mais transmissível que outras linhagens e mais capaz de reinfectar quem já teve covid.
E pesquisas preliminares apontam que vacinas perdem eficácia contra essa variante, embora ainda ofereçam forte proteção contra hospitalizações e casos graves da doença.
Cepas surgidas a partir de mutações da P.1 também já foram identificadas no Brasil e não se sabe se são mais letais e transmissíveis.