Advogado filmado ao levar série de socos de policial mostra ferimentos e denuncia agressão ao MP: ‘Tive medo de morrer’

VÍDEO: Policial dá série de socos em advogado que era segurado por outros PMs, em Goiânia
 Policial dá série de socos em advogado que era segurado por outros PMs, em Goiânia

advogado Orcelio Ferreira Silvério Júnior que foi filmado ao levar série de socos de um policial enquanto estava algemado mostrou os ferimentos no rosto e denunciou a agressão ao Ministério Público de Goiás (MP-GO). Vídeos registraram a ação, em Goiânia. Um policial foi afastado.

“Eu tive medo sim de morrer, principalmente por parte do tenente porque ele estava muito alterado”, contou o advogado.

 

O advogado chegou ao MP na tarde desta quinta-feira (22) usando óculos escuros. Ele está hematomas no olho e na boca.

“Ainda estou muito abalado psicologicamente. Meu pai não está conseguindo olhar para mim. Minha mãe não para de chorar”, disse.

 

VÍDEO: Advogado que levou série de socos de policial diz que teve medo de morrer
 Advogado que levou série de socos de policial diz que teve medo de morrer

A agressão contra ele aconteceu na quarta-feira (21). Vídeos mostram quando ele leva uma série de socos de um policial militar do Grupamento de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro) enquanto era segurado por outros agentes e já estava algemado. Em seguida, ainda levou um tapa no rosto e foi arrastado pela calçada.

Em nota, o MP informou que foi instaurado procedimento investigatório para apuração das circunstâncias em que o episódio ocorreu, notadamente em relação aos limites da atuação das forças policiais.

Advogado Orcelio Ferreira Silvério fica com hematomas após ser agredido por policial, em Goiânia, Goiás — Foto: Arquivo pessoal

Advogado Orcelio Ferreira Silvério fica com hematomas após ser agredido por policial, em Goiânia, Goiás — Foto: Arquivo pessoal

“As pessoas que extrapolam as determinações da polícia, nós não admitimos. Ninguém aceita quem quer que seja extrapolar o limite. Não tenho dúvida, está nítido [sobre o excesso na ação], tanto que o comandante da PM já tomou as atitudes”, declarou Caiado.

 

Moradores colocaram cartazes pedindo por justiça em frente a loja em que as agressões aconteceram, na avenida Anhanguera, no setor Leste Universitário.

Abordagem na frente do pai

 

Orcelio Ferreira Silvério, pai do advogado, disse que o filho chegou a desmaiar por três vezes. As imagens mostram que um PM chega a imobilizar o advogado apertando o pescoço dele com as pernas.

“Estou me sentindo um homem morto, porque um pai que vê um filho ser espancado e não poder fazer nada. Um homem de 62 anos que toma remédio controlado. Eu fiz três pontes de safena há três anos. É muito revoltante”, lamentou Silvério.

 

A aposentada Neuza Maria Costa, 70 anos, que aparece de bengala nas imagens, disse que tentou ajudar o advogado ao pedir para os policiais pararem com as agressões.

“Foi a hora que eu abaixei e pedi para não fazer aquilo porque estava enforcando ele. Eu senti que foi muita violência, não precisava daquilo tudo não”, destacou.

 

Momento em que advogado fica com pescoço preso entre as pernas de PM, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Momento em que advogado fica com pescoço preso entre as pernas de PM, em Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

PM afastado

A Polícia Militar disse em nota que afastou das funções operacionais o policial que aparece nos vídeos dando socos no advogado. A corporação informou ainda que não compactua com qualquer tipo de excesso e que o caso está sendo apurado com o devido rigor.

De acordo com a PM, a confusão começou quando a equipe abordava um flanelinha no estacionamento do camelódromo, em frente ao terminal Praça da Bíblia. Segundo o boletim de ocorrência, o cuidador de carros estava ameaçando motoristas a pagarem por terem estacionado no local.

VÍDEO: Momento em que advogado leva tapa no rosto e é arrastado pela PM, em Goiânia
Momento em que advogado leva tapa no rosto e é arrastado pela PM, em Goiânia

Segundo a equipe, durante esta abordagem, o advogado se aproximou com o celular em mãos filmando a ação. Consta que, ao ser questionando pelo motivo da gravação, Orcelio respondeu estar a trabalho, sem dizer sua qualificação ou função ou o porquê de “estar invadindo o perímetro de segurança da abordagem policial”.

Os PMs disseram que precisaram conter o advogado porque ele desobedeceu a corporação, desferiu chutes e mordeu o dedo de um policial.

Agressão em delegacia

O advogado denuncia que foi agredido novamente pelos policiais. Desta vez, dentro da Central de Flagrantes da Polícia Civil, para onde foi levado após a abordagem em frente ao camelódromo.

“Fui agredido dentro do pátio da delegacia, já entregue, e dentro da triagem também. Pedi socorro, e uma policial civil que não quis se identificar foi negligente no momento que estava sendo torturado”, denunciou o advogado.

Por meio de nota, a Polícia Civil informou que está tomando as medidas cabíveis para esclarecimento dos fatos e, se necessário, comunicará a Corregedoria para as devidas providências.

OAB repudia ação “criminosa”

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Goiás, Roberto Serra, classificou a ação dos policiais de “criminosa” e “desastrosa”. Ele afirmou que o advogado foi torturado e houve abuso de autoridade.

“Em nenhum momento ali se verificou o mínimo de respeito aos procedimentos [da PM].Foram cometidos crimes de abuso de autoridade e até mesmo tortura, haja vista pelas imagens que o advogado se submeteu a intenso sofrimento”, ressaltou Serra.

Momento em que policial dá série de socos em advogado, Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Momento em que policial dá série de socos em advogado, Goiânia, Goiás — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em rede social que as imagens são “enojantes”. Chamou os policiais de milicianos e que sabiam que estavam sendo filmados.

“Imagine o que fazem sem testemunhas. Iremos acompanhar o caso”, destacou o presidente da OAB.

A Defensoria Pública de Goiás, por sua vez, disse em nota que a abordagem naquelas condições violam a dignidade humana e que não pode ser tolerada em um estado democrático de direito. “A truculência, despreparo e abuso dos policiais impressiona”, diz a nota.

Por Guilherme Rodrigues, G1 GO
Compartilhe este artigo:

Últimas atualizações